E todos os dias .. [Parte 1]

Acorda às 6 da tarde. Só cria coragem pra levantar da cama às 6:25. Come, toma um banho e se veste, tudo isso com o entusiasmo de quem se arruma pra forca. Pra ela, antes a forca do que as aulas de Língua Portuguesa.
No caminho pra faculdade, só o que passa pela sua cabeça é uma música qualquer do red hot, um fundo musical que a salve de quaisquer pensamentos insuportáveis que a rondam e amedrontam assim que mente fica livre. Olha pro céu e o finzinho de pôr-do-sol a preenche com um esperança quase libertadora, mas isso só por 15 segundos, a realidade a obriga a continuar andando em frente como um carneirinho marchando pro sacrifício. É assim que ela se vê. Algo mecânico fazendo o que lhe é imposto mecanicamente, não ri, não fala, ainda que sinta uma vontade absurda disso, não pode. Passa pelas ruas, praças, corredores de faculdade e vê a explosão de vida (expressãozinha bem National Geografic), as pessoas e seus corações abarrotados de esperança, sonhos, amores e bla,bla,bla... mas ela, ela não merece nada daquilo. A última coisa pela qual ela havia lutado com toda vontade se mostrou no final uma bela decepção, mais uma aliás pra coleção que ela cultiva. Talvez, por isso ela se ache alheia a toda a magia que não sente mas que enxerga tão bem em tudo a sua volta. Ela passa incógnita por tudo isso, de jeito automâtico, involuntário, com um resquício de esperança de fazer parte disso um dia, mas absorta na própria insatisfação (e num dado momento, no desejo de apertar o gatilho de uma 38 na boca só para não ter que escutar a voz de taquara rachada da professora), e cái, afunda cada vez mais no poço que ela própria cava...